Universalismo é a compreensão de que todas as religiões e filosofias
contêm uma parcela da Verdade Cósmica. Ser universalista não é algo
fácil, exigindo um exercício constante de tolerância e discernimento.
Talvez uma boa forma de se iniciar uma caminhada espiritualista
universalista, seja observar atentamente os pontos em comum entre as
diferentes visões da vida, deixando de lado as controvérsias. A partir
disso, será possível começar a vislumbrar a presença da Inteligência
Universal por trás do pensamento religioso/filosófico de todas as
culturas, sejam elas de caráter monoteísta ou politeísta, dualista ou
monista, materialista ou espiritualista, empírico ou científico etc. Com
certeza, há fundamentos em comum para as diversas formas de enxergar o
mundo, mas também, e talvez sobretudo, há complementariedades. Não
necessariamente duas visões diferentes sobre um mesmo assunto são
contrárias! Mas, como essas visões provêm de ângulos diferentes, na
realidade, se complementam. Para exemplificar esta questão, é
interessante recordar uma velha história hindu, que passo a relatar em
seguida.
Numa cidade da Índia viviam sete cegos, que tinham alguma sabedoria.
Como os seus conselhos eram quase sempre muito úteis, todas as pessoas
que tinham problemas recorriam à ajuda deles. Eram amigos, mas havia
uma certa rivalidade entre eles, o que, de vez em quando, causava uma
discussão sobre qual seria o mais sábio. Em certa oportunidade, depois
de muito conversarem acerca da Grande Verdade da Vida, não chegaram a um
acordo. O sétimo cego ficou muito contrariado, resolvendo morar sozinho
numa caverna de montanha. Antes de ir embora, falou aos demais: “-
somos cegos para que possamos ouvir e entender melhor, o que as outras
pessoas não alcançam. Em vez de aconselhar aos necessitados, vocês ficam
aí discutindo, como se quisessem vencer uma competição. Não concordo
com isso! Vou-me embora!” Sete meses depois, chegou à cidade um homem
montado num enorme elefante. Os cegos, que nunca haviam tocado num
paquiderme, foram para a rua ao encontro dele. O primeiro apalpou a
barriga do animal, declarando: “- trata-se de um ser gigantesco e
fortíssimo! Posso tocar nos seus músculos e não se movem, parecendo
paredes!” Mas o segundo cego, tocando nas presas do elefante, afirmou:
“- que bobagem! Este animal é pontudo como uma lança, uma verdadeira
arma de guerra!” Então, alguém falou: “- ambos se enganam!” Era o
terceiro cego, que apertava a tromba do elefante. E acrescentou: “- este
animal é idêntico a uma serpente! Contudo não morde, porque é
desdentado. É como uma cobra mansa e macia.” Em seguida, bradou o quinto
cego, logo após mexer nas orelhas do elefante: “- vocês estão loucos!
Este animal não se parece com nenhum outro, pois os seus movimentos são
ondulatórios, como se o seu corpo fosse uma cortina.” Na seqüência o
sexto cego, tocando a pequena cauda do elefante, concluiu: “- todos
vocês estão completamente errados! Este animal é como uma rocha com uma
corda presa no corpo. O que há com vocês?” E assim ficaram, por longos
minutos, debatendo aos gritos. Então o sétimo cego, que descera a
montanha procurando víveres, apareceu conduzido por uma criança. Ouvindo
a discussão, solicitou que o menino desenhasse, na terra macia, a
figura do elefante. Após tocar cuidadosamente os contornos do desenho,
percebeu que todos os seis cegos estavam certos parcialmente, mas, ao
mesmo tempo, bastante enganados. Agradeceu ao garoto e atestou: “- é
assim que os homens se comportam perante a Verdade. Mal tocam numa parte
e já pensam que é o Todo!” A seguir, se afastou de seus antigos
companheiros, entendendo que eles continuavam sem enxergar...
Portanto a verdade científica, a espírita, a budista, a judaica, a
muçulmana, a católica, dentre outras verdades, são complementares, já
que nenhuma religião ou filosofia de vida poderá, a seu modo particular,
captar completamente o Todo ou Deus. Por isso, não é tão difícil
concluir que uma visão mais universalista/ecumênica do mundo, tem a
possibilidade de maiores aprendizados. No entanto, isto não quer dizer
que as pessoas devam deixar suas práticas religiosas de lado, nem passar
a ter preconceitos com relação àqueles que se dediquem, de forma mais
exclusiva, a uma religião de sua preferência. Ao contrário, um
universalista pode ter uma religião específica, mas, o que o diferencia
de pessoas ortodoxas, é a flexibilidade de pensamento e a humildade,
pois, apesar de preferir uma forma de culto, reconhece que Deus está em
todos os lugares e corações humanos. A Divindade ou Inteligência
Universal é infinita e manifesta-se por múltiplas maneiras. O
espiritualista universalista verdadeiro entende que, por trás de
qualquer forma, há uma Essência.
Mas, qual ou quais as vantagens práticas do Universalismo? A
princípio, pelo menos, há dois grandes benefícios em se manter uma
postura universalista perante a vida. Um deles, que já foi comentado, é a
possibilidade de novos aprendizados, já que a falta de preconceito
quanto a outras filosofias e religiões, permite o exame isento de outros
pontos de vista. E isto é algo extremamente lógico, pois não é nada
inteligente desprezar o que outras pessoas conseguiram através de
estudos (científicos ou não), meditações e práticas diversas, muitas
vezes por inúmeros anos de dedicação. Por que segregar tradições
filosóficas, religiosas ou esotéricas seculares? Será que estas
tradições não possuem conhecimentos que nos podem ser úteis no
dia-a-dia? Será que não desenvolveram algum tipo de sabedoria? Além
disso é importante salientar que, numa determinada tradição, mesmo que
hajam conceitos que não se adequem a nossa vida, não é por isso que
devemos concluir que o seu conjunto de idéias seja imprestável. É
importante usar um “olho clínico” ou uma “visão interna”, para discernir
o que é útil de fato (é claro que isso é pessoal). E quanto aos
aparentes “erros” ou “distorções”, por que não aprender com as “falhas”
dos outros? Simplesmente jogar fora a experiência de nossos semelhantes é
um ato de arrogância e inteligência limitada.
O segundo claro benefício de uma postura universalista, é o
desenvolvimento de tolerância quanto aos outros pontos de vista.
Obviamente, um espiritualista universalista provavelmente contribuirá
para uma convivência mais harmônica, na sociedade humana. No entanto, é
relevante voltar a frisar, que praticar o Universalismo de fato, não é
algo simples ou trivial. É preciso se despojar de idéias pré-concebidas e
dogmas, mantendo constantemente uma mente aberta a novas
possibilidades, e, entendendo que, um ponto de vista diferente não
necessariamente derrubará a estrutura de compreensão que temos do mundo,
mas sim que poderá agregar algum valor novo, complementando o que já
sabíamos. Em outras palavras, não é preciso encarar idéias novas ou
diferentes como ameaças. Paz a todos.
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