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quinta-feira, 3 de março de 2011

MÚSICA e ESPIRITUALIDADE


«A música é um meio mais poderoso do que qualquer outro porque o ritmo e a harmonia
têm a sua sede na alma. Ela enriquece esta última, confere-lhe a graça e ilumina
aquele que recebe uma verdadeira educação.» Platão

«A música tem o poder de formar a personalidade e podem-se distinguir os diferentes
géneros de música fundados em diferentes modos pelos seus efeitos sobre o carácter. Tal
género determina a melancolia, aqueloutro a moleza; este encoraja o abandono, este
outro o autodomínio, e outro ainda desperta o entusiasmo.» Aristóteles

Como podemos ver por estas afirmações, já na Antiguidade
se tinha a noção de que a música exerce
uma influência preponderante sobre a alma humana.
Platão, por um lado, defendia que a música devia
ser usada na educação do jovem, contribuindo
para a formação do seu bom carácter e preparando-
o, por conseguinte, para o seu papel enquanto
cidadão numa sociedade ideal. Aristóteles, por outro
lado, acreditava que diferentes tipos de música
podiam exaltar na alma humana sentimentos
diversos, aceitando, assim, a existência natural de
afinidades entre o indivíduo (com os seus estados
de alma) e os vários tipos de música.
De facto, ainda hoje constatamos como a educação
artística em geral pode contribuir para o desenvolvimento
moral e intelectual das crianças. Além disso,
certamente que todos nos identificamos com
determinado tipo de música, dependendo do nosso
estado de espírito. Mas será que a música que conhecemos
é somente criação do Homem, enquanto
Espírito encarnado? Naturalmente que não. Sendo
a música uma forma de elevação espiritual, pelos
sentimentos superiores que pode despertar, o ato
de a compor e interpretar não deixará de ter o auxílio
das entidades superiores.
A palavra música vem do grego "mousiqê", que significa "arte das musas". Englobava a poesia, a dança, o canto, a declamação e a matemática.
A música sempre esteve presente nos sons harmoniosos pelo Universo, que, através de seus co-criadores, emocionavam pelo encantamento e profundidade dos timbres e tons através dos tempos.
O monge Hucbalbo, autor do tratado De Harmônica Institutione, estabeleceu a pauta de quatro linhas. Começava-se então a inventar formas de notação musical. Em seguida, o italiano Guido D’Aresso atribuiu às notas seus nomes, tirados das sílabas iniciais de um hino a São João Batista: UT queant laxis (no século XVII o UT passou a ser DO, em homenagem a João Batista Doni), REssomare fibris, MIra gestorum, FAmuli tuorum, SOLve polluti, LAbii reatum e Sancte Ioannes. Daí o surgimento da escala musical conhecida até hoje no Ocidente: do, re, mi, fa, sol, la e si.

O médium e a música

A arte nos aproxima dos encantos que colorem e perfumam os jardins da compreensão. Precisamos perceber o quanto é importante a música elevada em nossos corações. Através dos ventos da melodia, somos direcionados para esferas cada vez mais altas que se somam pela harmonia, que nos inspira a harmonia de novos sentimentos, de novos pensamentos, de ações cada vez mais corretas, ao ritmo que mantém em ordem o tempo do caminhar durante séculos em busca do homem novo que existe em cada um de nós e que vive em sorrisos, esperando-nos por este encontro de paz em paz.
No livro O Consolador, Emmanuel relata que o artista verdadeiro é sempre o médium das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráveis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o infinito e abrindo, em todos os caminhos, a ânsia dos corações para Deus nas suas manifestações supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.
Em O Espiritismo na Arte, de Léon Denis, podemos perceber o elo existente entre a música e a mediunidade: "Os grandes músicos terrestres podem, como os outros artistas, receber a inspiração, seja do espaço, seja como resultante de trabalhos anteriores. Trata-se exatamente do mesmo fenômeno que se produz com os outros artistas".
A música é uma impressão especial que invade todo o nosso ser fluídico, mergulha-o no êxtase e na beatitude, fazendo com que ele experimente sensações de júbilo, de quietude, de alegria etc. Já no capítulo "A Música Terrestre", Léon Denis diz: "O canto e a música, em sua íntima união, podem produzir a mais alta impressão. Quando ela é sustentada por nobres palavras, a harmonia musical pode elevar as almas às regiões celestes. É o que se realiza com a música religiosa, com o canto sacro".
Com tais afirmações tem-se a possibilidade de compreender a importância dos grupos, corais e músicos solistas espíritas que contribuem através do canto, da canção elevada, buscando entre as criaturas a divulgação das verdades do Evangelho segundo o Espiritismo. São músicas que nos fazem refletir e, por que não dizer, canções que elucidam os espíritos sobre os vários temas já abordados tantas vezes pela oratória e pela literatura.
A música nos aparece como mais uma opção de luz para a compreensão das questões evolutivas do ser, através da harmonização interna e externa que se movimenta, dando condições para abrirmos campo tanto para receber como para o momento divino da doação. Podemos assim perceber a importância da música não só na doutrina espírita, como também, a importância em outros segmentos e desses valiosos trabalhadores que atuam com muito amor dentro das doutrinas espiritualistas.
A música já foi comprovada cientificamente como fonte de cura mental, corporal e espiritual, estendendo-se para vários pontos do mundo, onde é conhecida como "musicoterapia". Técnicas como Nível Aumentativo, Nível Intensivo, Nível Auxiliar, entre outras, são de suma importância para o reequilíbrio da criatura (se a mesma fizer sua parte para tal equilíbrio).
Hoje já existem muitas obras importantes onde podemos buscar o estudo detalhado, que abordam este assunto de maneira clara e objetiva, obtendo assim, mais informações sobre os demais processos e estudos destas técnicas. Um exemplo é o livro Definindo Musicoterapia, de Kenneth E. Bruscia.

Música é sentimento!

A música se apresenta como um sublime sentimento que muitos ainda não buscaram ter ouvidos para ouvir, olhos para ver e mãos para tocar, como quem toca as estrelas no céu. Devemos compreender que as canções da vida, na voz da natureza, ecoam em nós a cada instante, através da sinfonia dos ventos, do canto dos pássaros, do findar e recomeçar das ondas, do canto da chuva composto e regido pelo único maestro do Universo.
Cantemos e encantemos nossos mundos, unindo-os num só mundo, num só coração, onde ecoa o canto da paz por toda parte.

Um dos compositores que mais se destaca precisamente
pela crença em ideais elevados é Johann Sebastian
Bach. Ele próprio afirmava que entendia a sua
“criação” musical como uma forma de glorificação a
Deus. A sua música tem um sentido especial. Pensamos
que vale bem a pena conhecê-la, para compreender
e sentir o alcance da sua intenção sublime.
Outro caso é o de Ludwig van Beethoven, visto que
foi o princípio de fraternidade universal que o levou
à composição do Hino à Alegria, adoptado posteriormente
como hino oficial da União Europeia.
A acção do intérprete é, de certa forma, a do médium,
se tivermos em consideração que, da mesma
forma que este transmite uma mensagem filtrada
pela sua própria linguagem e pelos seus próprios
conhecimentos, também o músico capta influências
de acordo com o seu próprio estado vibratório
e consoante a afinidade que o liga a determinado
compositor ou a determinada obra. No entanto,
no acto de interpretar, o músico dá sempre algo de
si próprio e é por essa razão que cada intérprete é
único.
A fruição musical, não só pelo ouvinte mas também
pelo executante, é uma forma de apaziguamento
da alma que permite a nossa comunhão enquanto
irmãos, com a condição de haver uma concentração
num mesmo propósito. Deste modo, para além
da função educativa, que é primordial, a música
assume também uma função terapêutica bastante
importante. Existe já em Portugal, felizmente, um
curso de musicoterapia, o qual pretende promover,
por exemplo, a prática musical junto de doentes
em fase terminal com o objectivo de minorar, dentro
do possível, o seu sofrimento. O sucesso foi espontâneo
e os resultados imediatos.
Concluindo, a música é algo essencial para todos
nós, seres imortais num processo evolutivo. Platão
(um dos precursores da ideia cristã e do Espiritismo),
mais uma vez, defendia que a música material,
a que temos acesso no plano terreno, devia ser
usada no sentido do nosso progresso ao longo das
várias reencarnações até atingirmos uma etapa
final em que poderemos compreender uma música
puramente espiritual.

Mesmo que os mais céticos não concordem, é impossível não sentir que a música é uma terapia que está ligada à espiritualidade, de alguma forma, desde os tempos mais remotos da humanidade. Tanto música quanto espiritualidade agem por vibrações, onde cada indivíduo vai captar da forma que melhor convém para si. O som é um dos fenômenos da natureza mais intimamente ligado às pessoas, assim como a visão, o tato etc.
Recebemos o som desde nossos primeiros instantes de vida. Com o tempo, a percepção sonora tende a se expandir, embora não seja isto o que ocorre com as pessoas ou, pelo menos, com a maioria delas. Muitas pessoas, ao contrário, perdem esta sensibilidade do ouvir, do escutar, com o passar do tempo. Ouvem, mas não escutam. Estamos tão cercados de sons por todos os lados que ocorre, por exemplo, o tal do "mascaramento do som", ou seja: ouvimos aquilo tudo o que está à nossa volta, inevitavelmente, mas só escutamos aquilo o que nos chama atenção e / ou aquilo o que nos convêm.
Exemplo: Uma sala de aula com ventilador e barulho de alguns alunos que passam pelo corredor. Você escuta ao professor, que está ali dando sua aula, mas ouve o som do ventilador e da voz dos alunos que estão no corredor ao longe. Estes sons são mascarados pelo som da voz do professor, que tá em primeiro plano, ou que seria mais " importante" ali, naquela hora. Mas aqueles outros sons existem. Mas não os percebemos.
Expandir e aperfeiçoar nossa percepção audível requer treinamento, atenção e sensibilidade. É difícil encontrar alguém que não goste de ouvir os sons, seja os da própria natureza, seja aqueles produzidos pelo homem. Qualquer pessoa sente de onde "vem" um som, seja uma nota musical, uma explosão, a voz humana ou um simples ruído (conceito de paisagem sonora) e isso inclui pessoas com deficiência ou dificuldade audível ou até mesmo na falta total de audição. Essa percepção deve-se a uma característica fundamental do som, que é sua origem, sua essência: vibrações. E não só de som, enquanto elemento físico, e de vibrações que vive o som.
O som leva à Sinestesia, que é a capacidade pela qual uma mensagem veiculada num determinado código incorpora sensações pertencentes a um outro. É isso o que acontece com o som: o som é uma mensagem que tem cor (visão), tem textura (tato) , tem cheiro (olfato). Através da vibração, de um timbre, sabemos se a música é áspera, macia, calma, branca, azul, multicolor e por assim vai...
Vibração é o som que você não "ouve". Ou melhor, é exatamente aquele que você ouve com os ouvidos e sente na própria pele e no coração! Acontece que não é só o ar que nos cerca que vibra quando uma onda sonora se propaga. Quase todo e qualquer corpo vibra, mais ou menos, dependendo da densidade, do seu volume, da sua forma e da característica da onda que o atinge. Certamente você, que mora em apartamento, não gosta nem um pouquinho daquela vibração que vem do andar superior (ou do inferior) quando o vizinho deixa cair um objeto ou alguém sai batendo pregos nas paredes. Essa vibração é por choque. Paredes e lajes também vibram e são grandes transmissoras dessas vibrações, que se reproduzem através do prédio.
Mas não é só aí que as coisas vibram. Peças isoladas, como pequenos objetos, copos de vidro, quadros e outros, vibram intensamente ao receberem ondas de pressão sonora. Se objetos inanimados vibram, imagine nós seres vivos, com fluxo respiratório, fluxo de água no corpo, tendo consciência do que estamos ouvindo! Imagine só então interagir sinais vitais característicos dos seres vivos com estas vibrações cheias de significados!
Cada objeto tem sua característica própria, como o tipo de material de sua composição, sua forma construtiva, densidade etc. Então, cada um tem sua própria freqüência de vibração. Cada um na sua freqüência!
Nosso corpo vibra, nossas células vibram, somos constituídos por átomos, que por sua natureza estão sempre vibrando, dançando, circulando, assim como a dança dos elétrons, a dança cósmica do universo, a dança na roda de fogo de Shiva Nataraja. Tudo flui, tudo muda, tudo está em constante movimento: ciclo cibernético - nada se repete. Cria-se, renova-se. Não nos banhamos no mesmo rio duas vezes. Diferentes sons vibram em diferentes partes do corpo e afetam os nossos vários chacras.
O mais básico pode ser trabalhado com vogais do tipo o som de "Aaa", que vibra mais no peito - o quarto chacra ou chacra do coração. O som "Ôôô" ressoa profundamente na barriga, no plexo solar, e "Êêê" na cabeça. Existem diferentes tons e sons para ressonar com os chacras. Estudantes em fonoaudiologia e do próprio som e suas características, comprovam esta existência e a ligação entre o som e o estado psicológico, e até mesmo biológico, em cada ser. Falando genericamente, pode-se dizer que, quanto mais alto o tom, mais alto é o chacra que ele está vibrando.
Por exemplo, sons de percussão "martelam" o chacra do sexo. Esse é um dos motivos que nos faz pirar nas festas onde toca o "boom boom putz putz" do techno trance. Sentimos como se estivéssemos acordando a nossa energia sexual, é por isso que gostamos destes ritmos que batem profundamente. Não é por acaso que nosso país é regido pelo samba!
Outro fator interessante é que, muitas vezes, o número de batidas por minuto (BPM) de um determinado ritmo nos conecta ao pulsar dos batimentos cardíacos, transportando nossa memória a uma época em que você se comunicava com o mundo externo somente através das vibrações; o útero materno.
Existem técnicas de meditações dinâmicas com músicas onde o ritmo usado costuma ser até sete vezes mais rápido que a freqüência cardíaca num estado de repouso, ou seja, nos faz acelerar pela inércia que o ritmo da música nos causa. Diferente para flautas e instrumentos de corda, que acalmam e tocam o chacra do coração, a música clássica indiana provoca os chacras mais altos, por isso a Cítara é muito usada na Índia.
Sons de água também nos levam a relembrar o útero materno e nos dão uma sensação de conforto e relaxamento, e até envolve uma sensualidade, pois a água está relacionada a todo o fluir da vida. Mas os efeitos também dependem do estado do ouvinte.

Basicamente, qualquer som tem a capacidade de liberar uma energia bloqueada. A melhor maneira de permitir que isso aconteça é aceitar quaisquer sentimentos que estejam conectados com aquele som. É claro que existem sons, como uma explosão, que simplesmente são demais e o corpo se fecha para se proteger.

Com a música, que transcende a matéria, algumas partes do corpo liberam tensões e emoções; outras se abrem e absorvem os sons. Eles são como alimento para a alma. Uma sílaba muito usada desde a criação do universo é o OM ou AUM. O OM ou AUM, é o som mais sagrado para os hindus e é a semente de todos os Mantran ou Orações. É, especificamente, uma forte vibração. Todos os mantram indianos (orações) começam com OM.
OM é a chave da conexão transcendental, é a primeira de todas as vibrações. O ¨3¨ representa a trindade dos deuses da criação, da preservação e da destruição; é a tríade que aparece em todas as religiões deste plano material, assim como em nome do "pai, filho e espírito santo". O "O" é o silêncio de alcançar Deus, o Nirvana. 

A música é a manifestação universal e perfeita da linguagem. Seu significado pode traduzir o que as palavras não alcançam, e por essa razão, muitas vezes é utilizada para expressar o intangível. Sua associação ao sagrado remonta aos primeiros tempos da humanidade; desde sempre atuando como um registro da história, ligada a evolução do homem e seu pensamento.

Para compreender sua importância, vamos separá-la em duas categorias: a música modal, que engloba todas as tradições orientais (chinesa, japonesa, indiana, árabe, balinesa, entre outras), ocidentais (a música grega antiga, o canto gregoriano e a música folclórica dos povos europeus), e também a música de todos os povos e nações da África, América (índigenas) e Oceania (aborigines australianos). Por outro lado, a música tonal, que engloba toda a música ocidental conhecida, da alta Idade Média aos tempos atuais, compreendendo a música dos grandes compositores eruditos e populares.

Uma das grandes diferenças da música modal para a música tonal, é que a primeira nasce e se perpetua através de fontes anônimas, por isso, possui caráter coletivo e tem função definida (como para um ritual, promovendo a integração do ouvinte em vários níveis). Já a segunda, cultua o indíviduo, expressando sua personalidade, estilo e estética, usualmente exigindo uma participação não-ativa do ouvinte (por exemplo, o ato de assistir a um concerto de música clássica, onde todos devem permanecer em silêncio até o final).

A música modal está investida de um poder, seja ele mágico, terapêutico ou mesmo destrutivo, e por isso sua prática seja cercada de cuidados rituais. Em sua maioria, os instrumentos utilizados são primitivos e trazem em sua origem, os testemunhos da vida e da morte: os tambores são feitos de pele de animal, as flautas de osso, as cordas de intestinos, as cornetas de chifres. Uma alusão ao que é perecível (o corpo), que anseia o reencontro com o eterno (a alma). De uma certa forma, a música sublima o sacríficio, dando ao homem uma chance para se aproximar de Deus.

Nas mais diversas culturas, nos mitos de criação do universo, Deus se apresenta através do som: “No princípio era o Verbo”, no antigo testamento – ou seja a própria emanação da Vontade Divina que se manifesta por intermédio do som; Um jacaré batendo na barriga, com a própria cauda – como um tambor – num mito egipcio ou mesmo em várias nações índigenas brasileiras: os Carajás, os Ticuna, os Saterê-Maué, etc… Na cultura Guarani, acredita-se que a música seja o passaporte para o encontro com os espíritos que habitam as coisas que existem. Com o som produzido pela batida dos pés no chão e com o som da voz, recria-se o mundo ou imita-se a batida original da criação do mundo. Muitas vezes, a música vem através dos sonhos, como no caso dos Munduruku e dos Xavante. Depois que a música é sonhada, o sonhador apresenta a comunidade, que irá aprová-la ou não; Caso a aprove, a música passa a ser cantada por toda comunidade. Depois de algum tempo, ninguém mais lembra quem foi o autor, a música passa a ter vida própria. Por acreditar que os espíritos “falam” através dos cantadores, as pessoas são envolvidas pelos ritmos e melodias repetidas, e em extâse, entram em outro universo, em uma outra visão do mundo, em outra consciência de realidade. Quando uma música é transmitida pelo sonho, ela é própria voz da Criação, que ensina algo ao sonhador, que este precisa aprender e transmitir. Trata-se de uma experiência mística de percepção do sagrado, quanto mais sintonizado estiver o “receptor”, tanto mais estará apto a perceber vibrações mais sutis de sabedoria e conhecimento.

Nesse mesmo contexto, no hinduísmo – que é uma religião intrinsicamente musical, baseada no poder da voz e na importância da respiração - a música se apresenta como um espelho de ressonância cósmica, que compreende todo o universo. O canto dos homens nutre os deuses que cantam e dão vida ao mundo… Esse processo é como a serpente Ouroboros, que morde a própria cauda, está em constante expansão e sua manifestação é onipresente e onisciente. Minha afilhada Julia, de 9 anos de idade, disse outro dia a sua Mãe: “ O universo é infinito, porque Deus ainda o está criando”… Os hindus acreditam que as formas de som audíveis, criadas pelo homem, exercem efeitos muito poderosos sobre a consciência, o espírito e as coisas materias.

A música ajuda o ouvinte hindu a dirigir suas emoções ao Amor Supremo, a silenciar suas inquietações e levá-lo a um ponto de concentração que eleva sua frequência vibratória corporal; É uma “ferramenta” que canaliza o processo de transformação de sua parte material para o espiritual. Segundo os Upanishades (antigos manuscritos indianos), a vocalização da sílaba OM, representa o conceito integral do Som Cósmico e por isso “afina” o próprio individuo com a Essência Celestial. O poder vibratorio do OM, quando corretamente emanado, molda e organiza toda a matéria, pois provoca a coesão dos átomos, originando a energia da vida. Para não correrem o risco da música ser mal empregada por individuos pouco evoluídos ou de baixa moral, os professores indianos de música submetem seus estudantes a muitos anos de estudo e aprendizado, ensinando-os a tocar pelo menos 7 instrumentos diferentes.

Consideram também, que os aspirantes a músicos demonstrem uma sólida consciência espiritual e responsabilidade, pois um dia se tornarão professores ou gurus de outros estudantes. De uma maneira ainda mais profunda, a música ritual tibetana não se atém as emoções da individualidade temporal, mas com as qualidades eternas da vida espiritual.

Para os tibetanos, a entoação dos mantras sagrados, constitui-se em oração em seu aspecto meditativo e transformador. Tive a rara oportunidade de fazer dois shows e gravar um CD com os Lamas Tibetanos do mosteiro de Gaden Sharste, e posso afirmar que o efeito provocado pela música que tocamos juntos foi muito além de qualquer compreensão racional. As melodias não foram “pensadas” ou tocadas para soarem de uma maneira bela e ordenada, (como nós ocidentais, esteticamente buscamos…) elas simplesmente surgiram, fruto de um conhecimento maior e da expressão natural de uma tradição de milênios. Procurei então apenas me “encaixar”, cuidando apenas que minha percepção “ocidental” não atrapalhasse… Fluindo com os mantras, pude encontrar uma maneira totalmente diferente de expressar a musicalidade que ali emanava, conseguindo através de instrumentos “tradicionais” como o piano e os sintetizadores eletrônicos, uma integração profunda. Sem a regência do aspecto racional, toda a música foi criada no canal da intuição, quem ali tocava não eram mais os indíviduos, mas era o Espírito. O resultado desse encontro sonoro de diferentes culturas, foi sublime, pois dentro da Perfeição de nossas Essências Espirituais, encontramos a mesma expressão e compreensão. Não foi uma experiência de tocar juntos, mas sim de orar juntos…

Desde Platão (427-327 a.c.) até a Idade Média, era natural relacionar a música com a astronomia e com a matemática, olhando-se para a escala de sete sons como um problema cósmico, ou para a astronomia como uma teoria da música celeste. Mas atribui-se a Pitágoras (572-497 a.c.), a descoberta da base aritmética dos intervalos musicais, ou seja, a relação entre a frequência das vibrações e a altura dos sons. Aplicando esse conhecimento ao movimentos dos astros e relacionando as distâncias entre as esferas celestes com os intervalos musicais, os gregos atribuíam notas musicais aos astros. Séculos mais tarde, o astronomo alemão Kepler (1571-1630), escreveu as três leis gerais que descrevem o movimento dos planetas e com elas, pode aplicar as novas conclusões a teoria musical das esferas. Kepler concluiu que os planetas mais longínquos eram mais lentos em suas órbitas e portanto produziam sons mais graves. A medida que a distáncia ao Sol diminuia, o som se tornava mais agudo. Por exemplo, deduziu que Saturno, percorre um arco de 135 segundos por dia qunado está mais perto do Sol (periélio) e um arco de 106 segundos por dia quando está mais afastado do Sol (afélio). A razão 135/106 está muito próxima de 5/4, que é a mesma razão entre as frequencies associadas ao intervalo de terça maior em música (por exemplo dó-mi). Usando esse método para todos os planetas, ele descobriu que as razões periélio-afélio relacionadas com os planetas são semelhantes as razões associadas aos intervalos musicais consonantes. Era uma confirmação do pensamento pitagórico (mas também de Platão, Plinio, Cícero e Ptolomeu) de que a música das esferas era muito mais que uma bela alegoria filosófica e que tinha um fundamento cientifico, que iria transformar o pensamento do homem.

Tal como os antigos gregos, os chineses acreditavam que o objetivo da música não era o lazer e o entretenimento, mas a transmissão das verdades eternas e a influência no caráter dos homens, para torná-los melhores. Na antiga China, a tradição e a importância da música é tão antiga que se perde na noite dos tempos; Os conhecimentos dos antigos músicos chineses eram utilizados para manipular os padrões melódicos, os ritmos e a combinação dos instrumentos, dessa forma “anteviam” os efeitos que a música produziria nos ouvintes. Confúncio dizia que “ A música do homem de espírito nobre é suave e delicada, conservando um estado de alma uniforme, animador e comovente. Um homem assim não abriga o sofrimento nem o luto no coração; os movimentos violentos e temerarious lhe são estranhos”. O efeito moral da música para os chineses era tão importante que acreditavam que, para saber se um reino é bem ou mal governado, se sua moral é boa ou má, bastaria examinar a qualidade da música que se ouvia, pois ela forneceria a resposta. O Tom Fundamental era o huang chung, que significava literalmente “sino amarelo”, a referência da altura padrão em que se baseava a música de toda a nação. Esotericamente falando, esse som representava a manifestação audível do Som Cósmico Primordial (Logos). Por isso, considerava-se que os imperadores podiam se incorporar a vibração do Logos, sendo mais morais, sábios e justos. As cortes imperiais costumavam manter enormes orquestras, com mais de 1.000 músicos, que nos atos solenes e festividades, demonstravam o poder e a energia do reinado. Acreditavam que quanto mais intenso o volume, maior seria a quantidade de Energia Cósmica gerada. Com o passar dos séculos, as últimas dinastias imperiais foram relevando a música em planos menos importantes, permitindo a miscigenação com outras culturas, que culminaram com a praticamente abolição dos valores espirituais no ínicio do século 20.

A grande pergunta que envolve o homem acerca de sua origem e o sentido de sua vida, está presente em todas as religiões e doutrinas. Todas elas encerram no mistério místico de suas essências a resposta procurada. Mas, se por um lado, nenhuma linguagem produzida pelo intelecto humano ainda conseguiu desvelar totalmente esse segredo, Deus presenteou o homem com uma linguagem superior, metafísica, a música. É por ela e com ela que a criação pode vislumbrar o Criador e mesmo que pelo curto tempo de uma canção ou melodia, penetrar no infinito mistério da vida.


"A música é um sentimento nobre que eleva o ser
aos céus de suas próprias emoções"


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