As perguntas do bebé
Introdução do escritor
Quase todas as mães com bebés que eu conheço desejaram, secretamente, manter uma conversa adulta,
fluida, em duas direcções com essa preciosa entidade. Há tanto para contar a uma criança! Vejam se
conseguem captar o verdadeiro significado desta parábola acerca de uma conversa mágica entre uma mãe
e o seu pequeno bebé. É uma história divertida com uma mensagem importante.
* * * * * * * * *
A mãe humana ficou deveras surpreendida ao ver chegar um anjo quando estava a lavar a roupa.
- O que fazes aqui?!
- Esperavas que eu aparecesse na cozinha? – perguntou o anjo.
- Não. Não te esperava de todo – respondeu a mãe. Por que vieste?
- Para te conceder um pedido – disse o anjo, como se fosse normalíssimo aparecer em casa de um
Humano.
- Não me lembro de ter feito nenhum pedido – exclamou a mãe. Espero ter pedido algo de bom e que
não me tenhas ouvido a blasfemar. Digo de tudo, quando estou chateada.
- Não, não – respondeu o anjo. Lembras-te de quando olhaste para o teu filho nos olhos e murmuravas:
“Ah! Se pudéssemos conversar”! Bom, estou aqui para tratar disso. Amanhã à noite, quando fores ao quarto
dele, também eu lá estarei para que possam conversar um com o outro. Disporão de um curto período,
durante o qual ele poderá falar-te com o intelecto e a linguagem de um adulto. Nessa altura, te darei
mais pormenores.
E, com estas palavras, o anjo desapareceu por um respiradouro, à esquerda da máquina de secar.
A mãe não estava assustada; ao fim e ao cabo acreditava em anjos e já, por várias vezes, tinha estado
na loja dos anjos do seu bairro. Não podia saber, porém, que os verdadeiros anjos não gostam das lojas de
anjos. Toda essa popularidade tinha acabado com a diversão de aparecerem às pessoas. Algumas mães,
inclusive, queriam saber onde é que o anjo tinha ido buscar o que vestia - algo realmente insultuoso para
um anjo verdadeiro!
À tarde, quando foi deitar o seu bebé de seis meses, olhou-o fixamente nos olhos e disse:
- Amanhã, vamos poder conversar!
Estava deveras emocionada.
E o bebé, como resposta, babou-se.
A mãe dormiu pouco naquela noite. Pensava cuidadosamente no que iria dizer-lhe. Por onde começar?
De quanto tempo iria dispor? Como poderia comunicar-lhe as coisas difíceis da vida? Começou a pensar em
tudo o que pretendia dizer a uma criança que estava a iniciar a sua vida, sobre como é perigoso o fogão ou
como o belo fogo pode queimar. Mas… espera um momento! O anjo tinha dito que a criança falaria com a
mente de um adulto. Este detalhe mudava tudo. Assim sendo, tinha de lhe explicar como lidar com as
raparigas, o que fazer com um coração partido; tinha de lhe dizer que não devia confiar em toda a gente,
e que não devia tirar conclusões precipitadamente. Por favor!... Tanto que havia para lhe contar sobre um
Ser Humano!
Na tarde seguinte, a hora da conversa mágica aproximava-se lentamente. Esperou a hora marcada ao
lado do filho, no quarto dele. Então, o anjo voltou a aparecer.
- Estou encantado por vos ver, a ambos – disse o anjo rapidamente. Estas são as regras da conversação:
Mãe: tu só podes responder; filho, tu só podes fazer três perguntas. Depois, acabou-se.
E, após estas palavras, desapareceu – desta vez através da chaminé.
Isto altera tudo, pensou a mãe em silêncio, enquanto observava o filho. Talvez esteja com visões;
estou certa de que ele vai mas é adormecer.
A criança, porém, pôs-se de pé, e disse!
- Mãe, este é, verdadeiramente, um dia mágico. Que alegria poder falar contigo nesta altura da minha
vida.
A mãe levantou-se, espantada, com a boca aberta de surpresa. Bom, até se babava ligeiramente.
- Só posso fazer três perguntas – prosseguiu a criança. Mas há tanta coisa que gostaria de saber!
Enquanto a criança pensava na primeira pergunta, a mãe sentia-se completamente envolvida com a
situação. Isto é real, pensou. O meu filho está a falar-me como se fosse um adulto. Que milagre! Que
dom! E não podia conter a impaciência em relação à primeira pergunta que o filho ia fazer. Seria sobre
filosofia ou religião? Talvez quisesse saber o melhor conselho para escolher uma boa carreira, ou talvez
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quisesse saber como escolher a melhor companheira, uma mulher que ficasse com ele durante mais tempo
do que o pai dele tinha ficado com ela mesma. Então, o filho olhou-a nos olhos e fez a primeira pergunta:
- Mãe, estive deitado lá fora e fiquei maravilhado com o céu. Por que é azul?
A mãe teve de fazer um esforço enorme para não gritar: “Desperdiçaste a primeira pergunta! Quem é
que se interessa em saber por que o céu é azul?... Todavia, gostava tanto do filho que, respeitando as
regras do jogo, respondeu pacientemente à pergunta. Explicou como a atmosfera e as moléculas de oxigénio
reflectem a luz do sol e fazem com que o céu se torne azul – ou, pelo menos, era o que julgava. De
qualquer modo, a coisa soava bem.
Esperava agora pela próxima pergunta, com ansiedade. Esta tinha de ser melhor, pensava. Talvez o
filho quisesse saber o que teria de fazer com a sua vida para não acabar como um “sem abrigo” e com
amigos delinquentes.
- Mãe, a minha segunda pergunta é esta: Ainda que só esteja aqui há seis meses, apercebi-me de que,
lá fora, umas vezes faz calor e outras vezes faz frio. Porquê?
A mãe não podia acreditar. Outra pergunta desperdiçada com disparates! Como era possível, perguntava-
se. Mas o seu filho era inocente e esperto. Por isso, a sua pergunta devia ser importante para ele, e ela
apreciava este tempo mágico de que dispunham para estarem juntos. Lentamente, tentou falar sobre a
Terra e o Sol, e de como a Terra se inclina ligeiramente enquanto gira à volta do Sol, causando assim o
verão e o Inverno, o frio e o calor.
Finalmente, chegou o momento da última pergunta. Já tinha passado quase meia hora e… tinham
comunicado tão pouco.
- Mãe, gosto muito de ti – exclamou o filho. Mas, como sei que és, de facto, a minha mãe? Tens alguma
prova?
Que pergunta era esta? De onde vinha aquilo? Quem, senão ela, poderia ser a sua mãe? Acaso não se
tinha dedicado a ele em todos os dias da sua vida?...
Esta sessão tinha sido uma decepção total. Quase queria sair dali e voltar para junto da máquina de
lavar, onde tudo tinha começado. Pensou que empurraria o anjo para dentro da secadora, na próxima vez
que o visse. O seu filho, todavia, com os olhos inocentes abertos e despertos, esperava pela sua resposta.
Então, começou a chorar, mas estendeu as mãos e disse:
- Olha para os meus dedos; são como os teus. A minha cara e os meus pés são como os teus. As minhas
expressões de amor e alegria são como as tuas. Sou, realmente, a tua mãe. Temos os mesmos olhos e a
mesma boca. Repara!
E, desta forma, a criança, ficou satisfeita. Voltou a deitar-se na cama e adormeceu.
Mas, afinal, o que se passara? O milagre da comunicação começara e tinha-se acabado, e a mãe não
tivera qualquer conversa significativa com o filho. O que acontecera? O que tinha corrido mal? Passou
imenso tempo a pensar nisto, lamentando-se da forma como a coisa se passara sem que tivesse passado
qualquer informação substancial.
Então, o anjo reapareceu… através do ralo do lavatório da casa de banho!
Vai-te embora! – desabafou a mãe, antes de que o anjo pudesse dizer fosse o que fosse. Que desilusão
tive contigo!
- Concedi-te o tempo combinado – disse o anjo amavelmente. Não escolhi as perguntas.
- E de que me valeu isso? Por que é que o meu filho não perguntou sobre algum tema importante? Disseste
que ele teria a mentalidade de um adulto, mas fez perguntas de criança. Enganaste-me com o teu
famoso milagre.
Querida – replicou o anjo – apesar de o teu filho ter recebido a linguagem e o intelecto de um adulto,
somente tinha a sabedoria e a experiência dos seis meses que está na Terra. As suas perguntas foram,
pois, as melhores que podia imaginar e tu respondeste a todas elas. À última, inclusive, que encaraste
com medo, também respondeste correctamente. Além disso, transmitiste-lhe o teu amor enquanto estiveram
juntos, e não foste impaciente com ele. Ele fez o melhor que pôde e foi honesto. O que mais podes
pedir?
A mãe sentou-se. Não tinha visto a coisa sob essa perspectiva. O seu filho fizera as melhores perguntas
de que fora capaz. Como poderia ele saber o que devia pensar se não possuía o conhecimento que ela
tinha? E, se tivesse recebido esse conhecimento, não teria necessidade de perguntar nada! Sem mais
comunicação, a anjo partiu pela última vez… desta vez saindo pela janela.
A mãe regressou ao quarto e ali ficou a admirar o seu filho maravilhoso.
- Fizeste o melhor que podias, filho – disse com voz tranquila. Foi bom que tivéssemos podido conversar.
Comentário final do escritor
Entenderam o verdadeiro significado desta divertida história? Vocês e eu não temos o privilégio de possuir
a mente de Deus, enquanto nos encontramos neste planeta; mas, para compensar, é-nos dado o dom
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de podermos falar com os mestres. Que pacientes eles têm de ser para connosco, enquanto nos distraímos
com perguntas que não têm nenhuma relação com as verdadeiras razões por que estamos aqui!
Como saber o que há para perguntar? Kryon deu-nos a pergunta mágica, precisamente depois desta história
numa sessão em directo (veja mais abaixo).
O que é autenticamente interessante nesta história é que Deus responde às nossas perguntas, inclusive
as que são insignificantes para o propósito das nossas vidas ou do planeta.
Acaso já leram um livro sobre a linhagem da enorme quantidade de entidades que nos rodeiam? Há
livros cheios de capítulos e versículos com os seus nomes e as suas batalhas, e sobre a génese da Terra.
Acaso esses textos revelam quem eram os jogadores e o que lhes aconteceu, inclusive antes que a Terra
dispusesse de uma atmosfera? E, ao lê-los, acaso sentem calidez e aconchego no seu conteúdo? Acaso eles
instruem acerca do que devem fazer das vossas vidas? Será que obtêm uma directriz clara acerca de qual
o caminho a tomar para resolver os problemas decorrentes de sermos Seres Humanos nesta Nova Era?
Decerto que não. Tais livros apenas proporcionam a resposta à pergunta do bebé: “Por que o céu é azul?”
Quantas vezes somos obrigados a pedir a Deus que nos demonstre que Deus é Deus? “Mostra-me isto e
mostra-me aquilo. Como poderei saber se é real? Como poderei saber se és Deus?” É aqui que se explica o
“feitos à sua imagem”; é aqui que podemos compreender a metáfora do amor através da “imagem de
Deus”, que é o sinal do amor e da compaixão com que todos chegamos a este planeta.
Pensem como esta pergunta é um insulto para os anjos e para os ascendidos que têm estado ao nosso
lado desde que nascemos, Mas, ainda assim, todas as respostas estão cheias de compaixão e amor. No
entanto, estas respostas não nos levam de A para B, nem nos ajudam a fazer frente a relações insatisfatórias,
a empregos sem sentido, a problemas de saúde, a questões económicas, a dificuldades familiares ou
comunitárias.
Kryon diz-nos que há uma única pergunta verdadeira, uma pergunta que pode fazer a diferença nas
nossas vidas e que nos conduz, de facto, à mudança. Quando, em meditação e oração, nos sentamos diante
de Deus, estabelece-se uma comunicação em dois sentidos: alguns dizem que a oração é quando falamos
com Deus, e a meditação é quando o ouvimos. A próxima vez que tenham a oportunidade de falar e
ouvir, façam a seguinte pergunta:
Querido Deus, o que queres que eu saiba?
Não há melhor pergunta que possa fazer, pois, como nenhuma outra, reflecte toda a sua sabedoria de
consciência espiritual. Na eventualidade de a criança desta parábola ter feito esta pergunta, a mãe igualmente
responderia, e a criança teria sido muito mais sábia no seu próprio crescimento.
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