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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Fazendo as pazes com o mundo interior


:: Bel Cesar :: 

Por quanto tempo conseguimos nos manter felizes? Por quê, quando tudo vai bem, emerge de nosso interior um pensamento que nos desequilibra? 

Isto ocorre porque temos dois tipos de emoções mentais: as latentes e as manifestas. Quando um estímulo desperta uma emoção latente, ela amadurece e se manifesta automaticamente. Em outras palavras, é como se dentro de nós tivéssemos um campo minado de raiva, ciúmes e orgulho, bastando tocá-lo para ele explodir. Se não desativarmos essas bombas internas, estaremos projetando a causa de suas explosões em nosso mundo exterior. Enquanto buscarmos um bode expiatório para nossos conflitos interiores, nossos inimigos interiores irão se manter imperceptíveis e cada vez mais poderosos. 

A felicidade externa depende, portanto, de nossa clareza interna. O autoconhecimento depende, entretanto, de nossa dedicação ao mundo exterior. Pois é a relação com o mundo exterior que nos ensina a identificar os nossos limites, assim como potenciais e qualidades positivas.

Para conquistar a clareza interior, precisamos nos desenvolver espiritualmente, isto é, despertar a compaixão por nós mesmos e pelos outros. A espiritualidade nos ajuda a sermos mais sensíveis às necessidades humanas, a nos aproximarmos das pessoas e das situações à nossa volta. 

Em geral, estamos alimentando nosso ego ao ver nossa realidade como única. Isso nos torna frios e distantes com o mundo à nossa volta. Nos tornamos obsessivos ao acreditarmos que podemos controlar os outros para evitar nossas próprias emoções indesejadas. Quanto mais nos distanciamos dos outros, mais perdemos a visão clara de nós mesmos. Quanto menor for nossa capacidade humanitária, maiores serão os danos de nosso ego.

Quando tratamos os outros com ironia e sem afeto, estamos transferindo para eles nossas próprias dificuldades. Mas muitas vezes nos habituamos a reagir assim e nem nos damos conta de quanto sofrimento estamos criando para os outros e para nós mesmos. Não ferir os outros é uma ação preventiva para não ferirmos a nós mesmos.

Todos precisam se sentir amados, sentir que pertencem a um grupo social. Todos desejam se comunicar, trocar idéias, carinho, interagir de maneira amorosa. Quando alguém nos trata mal, facilmente nos sentimos melindrados, humilhados e ofendidos. 

A vitalidade de nossa personalidade depende de nossa capacidade de trocar afeto, informação e contato físico com os outros.

Quando nos abrimos para dar e receber satisfação física e mental, equilibramos nossa energia vital inspirando e expirando corretamente. Pois é ao trocar nossa energia pessoal com o mundo externo que recuperamos a vitalidade de nossa personalidade. 

Cada vez que o equilíbrio já conhecido é perdido, vivemos uma sensação de crise. Quando mais limitada e menos permeável for nossa capacidade de troca com o mundo exterior, maior será nossa dificuldade em lidar com a crise.

A rigidez e a intolerância constróem muralhas ao nosso redor. Quando essas muralhas são destruídas por acontecimentos externos, os efeitos são devastadores. Pois é altamente ameaçador expor a insegurança e fragilidade que elas escondiam. Quanto maior a rigidez, maior será a fragilidade que ela abriga. Portanto, no momento da crise, quando temos que lidar com a mudança e a diversidade causada por ela, poderemos sentir até mesmo nossa sobrevivência como ameaçada.

Quanto mais obsessivos formos, menos espaço interior teremos para lidar com novas idéias, para identificar novas possibilidades sobre como superar uma crise. A obsessão
nos impede de manter contato com o mundo exterior. Nos isolamos e a crise aumenta.

Uma crise é diretamente proporcional à rigidez dos limites interiores que cada um constrói dentro de si. Se formos flexíveis, seremos capazes de discriminar num momento de crise o que pertence e o que não pertence ao nosso desafio. Assim, poderemos ser permeáveis ao mundo externo, deixando nossa consciência ser tocada pela diversidade sem que esta se torne uma ameaça. 

Uma prova de que estamos nos desenvolvendo espiritualmente é avaliar se nossa capacidade de tolerar os limites alheios tem crescido. Só nos tornamos tolerantes com a necessidade alheia quando estamos nutridos interiormente. Se estivermos em dívida para com nós mesmos, não teremos energia disponível para compartilhar com os outros.

O nosso mundo interior estabelece o modo com o qual iremos nos relacionar com o mundo exterior. Reagimos conforme nossas necessidades internas. Portanto, a vida parece sem significado quando damos pouca atenção ao nosso mundo interior, e nos sentimos distantes de nós mesmos. Dar atenção ao nosso mundo interior não quer dizer ficar apenas observando nossas carências, mas também reconhecer nossas qualidades positivas. Quando nos libertamos da atitude de autocomiseração, passamos a saborear nossa energia interior positiva.

Lamentarmo-nos só faz bem como um primeiro passo para expressar e conhecer nossa dor. No entanto, para curar uma ferida emocional, não basta expressá-la: é preciso ir um pouco mais adiante. É preciso reconhecer nossa habilidade de transformar essa mesma dor em sabedoria.

Quando a vida parece mais pesada do que podemos agüentar, trata-se de um sinal de que a atenção que temos dado ao nosso mundo interno não tem sido suficiente. Podemos reconhecer a natureza transitória da dor. Muitas pessoas se suicidam porque não reconhecem a transitoriedade da própria dor.

O desenvolvimento espiritual é dinâmico. Nós adquirimos nova força conforme nos propomos a seguir adiante. Tudo de que necessitamos é a coragem de seguir em frente.

Bel Cesar é psicóloga e pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano.Trabalha com a técnica de EMDR, um método de Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares. Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções e Mania de sofrer pela editora Gaia. 
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